quinta-feira, 17 de abril de 2008

assim será...


O barulho da TV na sala, o som do carro passando na rua, os meus cachorros a arranhar a porta e o filho do vizinho com suas bolas de gude. Tudo parece muito próximo! Eu já não tenho paciência como antes...O meu quarto agora parece meu melhor refúgio! Meu lugar ideal...Lá nada me atinge, e olhar pro teto parece minha melhor opção.Meu violão já encostado no canto não é procurado com tanta freqüência. Todos os bons livros do mundo foram extintos. Todas as músicas agora parecem estúpidas, só repetem o que eu não quero ouvir! O velho companheiro inseparável, aquele tal de celular, parece agora só um aparelho de consumo sem muitas utilidades e vive jogado por aí num canto qualquer.

Agora tudo parece irritante e sem muita importância...Eu só quero o silencio, não há melhor companhia. Meus olhos acompanham todas as possíveis linhas existentes no meu quarto.De repente um som invade o silencio, agora eu posso também ouvir minha respiração. Meu coração parece querer saltar do meu peito e eu só consigo ter um único pensamento: será você? Mais do que rápido eu pulo da cama e começo a procurar aquele aparelho de consumo que agora grita como se fosse salvar minha vida quando eu dissesse a senha Alô! E uma esperança vai me invadindo junto com uma angústia. E eu só repito: não desliga...Não desliga! Enfim, ouço o som cada vez mais perto. Agora consigo ver, ele ali jogado no fundo da minha bolsa. Meus olhos já estavam no visor. Eu não conheço esse número! Mas a esperança continua ali presente. Levo o celular até o ouvido e digo a senha: Alô! Eu não ouço nada, só a minha respiração agitada. Tudo parece conspirar contra. Quando eu ouço: Oi! Por favor, gostaria de falar com a Ana. Rebato: Ana? E ouço novamente: sim! Ela está? Por fim digo: Não! Não tem nenhuma Ana aqui não!Minhas pernas estão eufóricas. E o aparelho de consumo foi arremessado pra qualquer lugar. Volto para o meu silêncio. Eu me sinto um tanto patética, mas quem é que nunca se sentiu assim? Agora milhões de pensamentos invadem minha cabeça todos ao mesmo tempo. E tento não acreditar que todos esses pensamentos me afetam de uma forma anormal. Para as outras pessoas parece tudo tão fácil. Agora eu só consigo lembrar daquele dia em que você disse que queria pensar. E saiu sem olhar pra trás! Nem se quer parou pra ouvir o que eu tinha pra dizer! Me diga que você está voltando. A saudade me machuca como nada igual. Logo eu puxo uma folha de papel.

Eu tento matar o tempo desenhando seu rosto nessa folha. Queria somente que você tivesse coragem para acabar com essa crueldade. Porque fazer sofrer quem só quer o seu bem? Eu alimento uma esperança mimada de que isso tudo vai acabar logo. E que alguém vai chegar pra mim e dizer que nada disso está acontecendo. Eu agora respiro para tentar seguir em frente. Mas ainda está tudo tão difícil. Porque ainda sinto toda dor. Eu já passei em cima de todo o meu orgulho. Já inventei milhões de desculpas pra te ligar, mas nenhuma delas funcionou. O que me dá essa raiva que carrego aqui no meu peito, não é tudo que você fez de errado, nem todas as mentiras que você ousou em me contar, muito menos você ter me deixado.

O que me dá raiva são todos os dias bonitos que passo sem você, é o sorriso estampado no rosto das pessoas que deveria estar estampado em mim, são seus olhos, são seus atos e todos as palavras de conforto que um dia você me disse, são seus beijos e todos os planos que fiz pensando em nós. Sendo assim, sinto raiva de tudo que vai me fazer tanta falta! E todos os conselhos, todas as palavras de carinho que eu recebo das pessoas parece agora que nada vai resolver. Eu já estou sem saída.


Brasília, hoje é 17 de novembro. E esta é só mais uma das cartas que eu escrevo e não mando. Dia a dia eu paro para escrever pra você. Mas eu nunca consigo chegar ao correio. Aconteceram muitas coisas que você nem chegou a saber. Eu mudei de emprego. E agora moro numa casa com um jardim todo florido, como agente sempre sonhou. E eu tenho dois cachorros como aqueles do filme que agente assistiu. E você nunca soube disso e nem das outras coisas. Pela vida eu fiz muitos amigos, andei por muitos lugares extraordinários. Tenho muitas histórias. Histórias que eu conto por contar e deixo no canto do armário. Eu fico imaginando como você está, se você teve filhos ou como é a sua casa. E os montes que faço dos envelopes, já não cabem nas prateleiras. Toma conta dos armários, do meu quarto e da minha sala. Já tomaram meu espaço, mas agora fazem parte da minha casa. E assim seguem-se os dias, quando eu me sento pra escrever pra você!

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