terça-feira, 27 de maio de 2008

A simplicidade faz o humano

Acabara de sair de uma aula sobre pós-modernismo e suas filosofias cheias de complexidade e aprofundamento intelectual. Aliás, o tempo da aula foi destinado a apresentações de trabalhos pelos estudantes acerca do tema; o ritual avaliativo de praxe, nada de muito novo. Novidade foi ter saído da aula antes das onze e meia. Não perdi o ônibus por pouco, pouco mesmo: ele surgiu do nada, uma aparição inesperada e agradável.


Depois de alguns minutos de viagem, entram duas senhoras de meia idade. Uma de blusa verde, cabelos brancos, sustentados e repuxados por presilhas e pelo coque muito bem amarrado. A outra parecia mais nova, cabelo castanho escuro, até o queixo, e auxiliado por apenas uma presilha frontal. A senhora de verde levava um guarda-chuva enorme, em pleno dia de sol, e carregava uma pequena sacola de plástico. Sua amiga levava uma embalagem semelhante. Dentro, um salgado e um suco de frutas de caixinha. E lá estavam elas, sentadas num par daqueles bancos altos do ônibus, comendo e falando à toa.


Nada mais cotidiano do que isso. Pegar um ônibus, fazer uma boquinha no ônibus, fofocar no ônibus. Nada mais depreciado do que isso. O que buscamos é sempre o complexo, o profundo, o intrincado. O intangível nos atrai, nos reveste de um ar filosófico de elevação e intelectualidade. Uma pena a simplicidade ser a última das virtudes por nós buscada. Ela nada requer, nada pede em retribuição. É o que nos faz humanos em sua mais simplória essência. Simplicidade é igualdade. Hum, agora entendo. Por isso a nossa indiferença a ela.


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