sexta-feira, 23 de maio de 2008

Violência assola estradas da capital

O trânsito no DF passa por um momento de fragilidade e preocupação
Dados mostram que a maioria das vítimas de acidentes são jovens entre 18 e 29 anos

No Brasil, onde mais de 35000 pessoas morrem por acidentes de trânsito por ano, a negligência e a irresponsabilidade de motoristas e pedestres contribuem para que o país tenha alarmantes índices de violência no trânsito – de 2002 a 2005, houve um crescimento de 9% no número de mortes. Brasília era exemplo para outros estados no que se diz respeito à organização no trânsito. Hoje, porém, o quadro é um pouco diferente. As estatísticas de incidentes no trânsito aumentaram, e a cidade caminha na mesma direção de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras grandes capitais: centro e regiões metropolitanas saturadas de veículos, problemas na organização de vias e rodovias urbanas e crescimento da mortalidade no trânsito.


Perigo diário

Rafael Fidelis de Jesus Ramalho voltava de Taguatinga para Brazlândia, cidade onde vive, por volta de duas horas da madrugada. Ele foi encontrar-se com sua namorada e confessa que acabou bebendo. Mesmo tarde da noite e um pouco embriagado, decidiu pegar o carro. Quando dirigia de volta para casa, dormiu ao volante e perdeu a direção da pista. O automóvel, um Marea, capotou e Rafael foi arremessado para fora do veículo. Ele conta que caiu desacordado, e não percebeu o que havia acontecido. Só se deu conta do ocorrido quando acordou, no matagal. “O carro ficou acabado. Deu perda total”, conta Rafael, 23 anos, professor de Educação Física. “Se tivesse ficado com minha namorada, isso não teria ocorrido”, completa. Ele não teve ferimentos graves, mas reconhece que foi negligente ao dirigir alcoolizado naquele horário. Rafael por pouco não entrou para as estatísticas de mortes no trânsito por um simples ato de irresponsabilidade.

Marco Túlio do Amaral, 44 anos, servidor público, também passou por uma situação de alto risco no trânsito do DF. Ele estava no banco de trás de seu automóvel, acompanhado de seu irmão, Estevão, que estava no assento do carona, e por seu filho, Vitor Rafael, de 21 anos. Vitor dirigia o Chevrolet Omega na pista de expansão do Setor “O”, Ceilândia. Quando o carro estava perto de uma passarela, um Corsa branco mudou repentinamente de pista e capotou. Uma passageira, que estava no banco do carona, foi lançada para fora do veículo e passou na frente do Omega conduzido por Vitor. Por pouco o acidente não foi ainda mais grave. O motorista do Corsa dirigia alcoolizado e em alta velocidade. Além do condutor e da passageira, havia ainda uma outra pessoa no carro. Os três ficaram gravemente feridos.

Túlio, que utiliza frequentemente as estradas do DF, acha que o principal problema do trânsito brasiliense é a desobediência das leis. “O problema também é o grande número de carros. A cidade não foi projetada para agüentar um trânsito tão cheio assim”, completa. Segundo dados divulgados pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em maio deste ano, as principais causas de morte no trânsito estão relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas, excesso de velocidade, não uso de equipamentos de segurança, como capacete e cinto de segurança, além da má condição das rodovias e vias públicas. O relatório da agência ainda destaca que, mesmo com a mudança do Código de Trânsito, promovida em 1998, os índices de violência não retrocederam.

Medidas preventivas

Como resposta ao aumento do número de acidentes e casos de violência no trânsito, o DETRAN lançou, no fim do mês passado, um pacote de medidas para melhorar a segurança nas estradas da capital. Além do aumento do efetivo policial na fiscalização, o governo promete mais severidade quanto à venda de bebidas alcoólicas em determinados locais e horários, e modernização da fiscalização e do monitoramento de veículos – uso de novos acessórios e aparelhos para agilizar o processo de punição e identificação de infratores. Porém, o principal foco, tanto de entidades governamentais quanto das campanhas pela paz nas estradas, tem sido a conscientização de motoristas e pedestres.

“O Código de Trânsito é bom. Falta observação às leis de trânsito, por isso o DETRAN tem se preocupado com mobilizações educativas”, afirma Miguel Ramirez, diretor do da DIVEDUC (Divisão de Educação do DETRAN-DF). Segundo ele, o departamento de trânsito tem elaborado uma série de campanhas educativas, recomendando aos motoristas dirigir de forma preventiva e aos pedestres observar a sinalização das vias. “Temos feito anúncios mais impactantes, de forma a alertar as pessoas sobre os riscos e conseqüências da imprudência no trânsito”, ressalta. Para ele, o trabalho da fiscalização também tem sido importante. “O CPRV (Companhia de Policiamento Rodoviário) tem feito um bom trabalho nas rodovias, apesar da dificuldade em fiscalizar grandes extensões de pista”, ressalta.

Educação para o Trânsito na escola

Lucimary Barbosa da Rocha Ramos, pedagoga, acredita que os movimentos e campanhas pela segurança devem ter como prioridade a valorização da vida. “Quando há respeito pela vida humana, há obediência às leis”, comenta. Ela ainda defende que a educação no trânsito seja um tema obrigatório nas escolas. “A educação no trânsito entraria como um tema transversal, junto com Ética e Sexualidade, em todas as disciplinas”, completa.


O Código de Trânsito brasileiro possui um capítulo dedicado somente ao tema. Em seu artigo de número 76, está escrito que “a educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus...”. Em 2001, o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) estabeleceu parâmetros para a implantação da educação no trânsito como tema transversal nas turmas de ensino médio. Porém, por causa do caráter opcional desta resolução, o tema não foi levado adiante. “A Secretaria de Educação tem alertado de forma indireta para a importância de se trabalhar este tema nas escolas. Porém, a inclusão como assunto obrigatório ainda é um sonho”, completa Lucimary. Para ela, o governo e as entidades responsáveis pela segurança e organização do trânsito precisam fornecer apoio técnico e estrutural às escolas.





Um comentário:

Felipe Moraes disse...

Grande texto, esclarecedor sobre a realidade da violência no trânsito da capital.