domingo, 31 de agosto de 2008

Valores que estão em falta no mercado.

Imparcialidade, objetividade e neutralidade, são características que há algum tempo vem se perdendo no perfil do jornalista moderno. Esses critérios que sugeriam credibilidade, hoje, são princípios quase irreais que acabam dando espaço a novos recursos. Como o sensacionalismo, que trata o fato com dramatização e espetacularização, tornando a notícia uma mercadoria a ser vendida. O sensacionalismo não se trata de um fenômeno novo. É talvez a mais antiga ferramenta usada para aumentar as vendas de produtos de comunicação e implica em uma opção editorial. As manchetes sensacionalistas têm o objetivo de chamar a atenção do leitor para um conteúdo que, na maioria das vezes, são fatos interpretados e não expressam com a pureza necessária a sua verdadeira natureza.

Há três anos e meio no cargo, o editor de economia do jornal Correio Braziliense Raul Pilati, busca neutralidade e imparcialidade no dia-a-dia da sua profissão. Raul garante que um verdadeiro jornalista respeita a informação tanto na apuração quanto na publicação do jornal. “Sensacionalismo é uma apelação do jornalismo para atrair os consumidores de informação. Há diversas gradações de sensacionalismo, desde o destaque de algum aspecto até a distorção da informação. Não é defensível a desinformação, mas os veículos usam, em maior ou menor grau, deste recurso. A reação dos consumidores dá a medida do limite.” O Jornalista destaca que uma informação correta pode ser propositalmente distorcida pela visão editorial ou ter várias interpretações de uma mesma notícia. Mas garante: “não é possível esperar absoluta neutralidade e imparcialidade porque todos os jornalistas têm crenças, convicções, concepções, formações e deformações que turvam sua objetividade e o resultado de seu trabalho”.

Qualquer estudante de jornalismo é orientado a checar e respeitar a informação, buscar ouvir muitas fontes, investigar e ser ético. Priscilla Andrade, estudante do 2º semestre de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília, acredita que dificilmente escreveria uma matéria sem deixar transparecer sua opinião. A inexperiência da estudante vai mais além. “O sensacionalismo é necessário. Não vejo nenhuma outra forma de prender a atenção do leitor.” Já Luanna Ramos cursa o último semestre de jornalismo, e não mede palavras ao afirmar que o sensacionalismo é uma forma de deformar a realidade. De acordo com a estudante, esse é um artifício utilizado propositalmente, pois é possível fazer um jornalismo sem sensacionalismo. Quando questionada sobre como os jornalistas fariam para não perder a credibilidade junto ao público, diz “Primeiro, falar a verdade, independente do recorte que resolva destacar dessa realidade. Sendo verdadeiro, já é primeiro passo.” Luanna se forma em Julho desse ano e ressalta que tentará usar a neutralidade e imparcialidade em sua profissão.

Fica cada vez mais claro a nova visão que os jornalistas tem sobre antigos valores. A imparcialidade e objetividade são questões que ficaram como obejtivos, que na maioria dos casos não são alcançados. Maria Luiza Brochado é jornalista da EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, há 11 anos. Ela apenas reafirma o que foi dito pelos outros entrevistados. Todos dizem tentar trabalhar com neutralidade. “Estou sempre buscando aplicar a imparcialidade, mas em certos momentos esta não é a melhor alternativa” diz Maria Luiza.

Balanço Geral é um telejornal popular exibido na hora do almoço na Rede Record. Com a apresentação de Henrique Chaves , o telejornal aposta em reportagens de comportamento e curiosidades. O programa ganhou a simpatia de grande parte da população, apesar de ser bastante criticado pelo excesso de sensacionalismo. Henrique aos berros apresenta as notícias do dia. Ele anda, de um lado para o outro, no cenário bem simples. O que para uns é interpretado como sensacionalismo para outros é somente a representação de uma realidade. Para a costureira Terezinha de Jesus, de 68 anos, o programa ajuda a resolver os problemas dos mais necessitados. “Quando eu vejo o Henrique falando do problema, eu sei que ele vai resolver!” O programa, exibido de segunda a sábado, expõem o drama das pessoas e abusa dos sentimentos alheios.

“Temos que ter discernimento para nos tornar isentos e deixar que as conclusões sejam do telespectador e não nossas.” Diz Juliana Texeira, que está prestes a completar três anos na TV Tambaú de João Pessoa. A jornalista observa que quanto mais cruel a notícia maior o destaque. Mas a população não pode deixar que o sensacionalismo faça parte de seu cotidiano.

De alguma maneira sempre nos basearemos em nossos valores para a produção de um texto. O que não se pode fazer é passar para o público apenas um lado da história, o impedindo de tirar suas próprias conclusões. Com honestidade, responsabilidade e compromisso social, devemos levar a informação correta ao público.

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