segunda-feira, 4 de maio de 2009

Álcool e direção, combinação grave e cara


Após 10 meses de uma fiscalização mais rigorosa e a diminuição das mortes fatais nas principais vias do DF, a preocupação ainda é contínua quando se envolve álcool e trânsito.

Os acidentes de trânsito são a terceira causa de óbito no Brasil, representando um grave problema de saúde pública. Não só pelo número de mortes e pelas sequelas deixadas, mas, também, pelos seus custos diretos e indiretos, que causam a sociedade.

Segundo Alethea Muniz, assessora de comunicação do ministério da saúde, em 2007, os acidentes de trânsito tiraram a vida de 36.465 pessoas em todo o país. O IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) estima que os gastos totais com o atendimento médico hospitalar, internações, cirurgias, tratamentos das vítimas de acidentes de trânsito custam ao SUS cerca de 5 bilhões de reais por ano. Em cada redução de 10% do número de vítimas, o Ministério da Saúde estaria economizando o equivalente a 500 milhões de reais.

Grande parte dos acidentes de trânsito ocorridos no Brasil é conseqüência direta da embriaguez ao volante. Encontramos evidências diárias de que o consumo de bebidas alcoólicas e trânsito não combinam. Existe o mito de que a ingestão de álcool em pequenas doses não altera os efeitos psicológicos. Ás vezes uma pequena dose pode ter efeito idêntico a ingestão de uma grande dosagem alcoólica. Independente de algumas pessoas se tornarem mais alegres ou comunicativas, em geral, quando bebem ninguém pode prever com precisão seu comportamento.
É comum as pessoas acreditarem que as bebidas alcoólicas são estimulantes. Na verdade, essa sensação estimulante provocada pelo álcool, nada mais é que a diminuição da inibição. A Psicóloga Clínica, Fabiana Cassimiro, explica que o álcool é uma droga que trás sensações prazerosas e eliminam temporariamente as sensações de desconforto, fazendo com que a pessoa aumente a cada dia suas doses. De fato, quando o álcool é ingerido em grande quantidade induz ao sono, há uma diminuição da resposta aos estímulos, dificuldade de manter o equilíbrio, prejudica a atenção e capacidade de julgamento, e torna o indivíduo mais vulnerável. Esses fatores causam a diminuição da habilidade para a realização de tarefas mais complexas como, conduzir um veículo. “Sua percepção das situações no trânsito estão alteradas fazendo com que tudo pareça mais lento, no entanto quem está mais lento é o motorista alcoolizado, pois o trânsito continua fluindo da mesma forma”, comenta a psicóloga.

A tarefa de conduzir um veículo requer habilidade e atenção. Estes requisitos são facilmente anulados após o motorista ter ingerido bebida alcoólica. Todo condutor de veículos em estado de embriaguez, mesmo leve, compromete gravemente a sua segurança e dos seus acompanhantes. Fabiana afirma que os danos causados á vida do alcoólatra ou das pessoas ao redor é comparado a qualquer outro vício mais grave. “O espaço das outras pessoas é invadido pelo dependente, que não se importa com as conseqüências de seus atos”, conta.

No início do mês de abril, tivemos um exemplo trágico de alcoolismo no trânsito. O diretor de construtora, José de Araújo Arruda, 33 anos, conduzia uma caminhonete L-200 Mitsubishi sob efeito de bebidas alcoólicas, quando perdeu o controle do veículo em uma curva de acesso à W3 Sul. O carro subiu no canteiro, e chocou com um ônibus que vinha na direção contrária. O acidente resultou na morte de Carlos Alberto Silva, 51 anos, e Carlos Alberto Silva Júnior, 30, sogro e cunhado do condutor. Além das testemunhas alegarem que a caminhonete estava em alta velocidade, as vítimas não usavam cinto de segurança e várias latas de cerveja foram encontradas dentro do veículo. O teste de bafômetro realizado com José após a batida registrou teor de 1,16 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Quantidade considerada altíssima, sendo que o limite é de 0,3 mg de álcool. O motorista já possuía 25 pontos na carteira por conta de uma infração gravíssima, uma média e outras três leves, de acordo com o Detran. O chefe de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran, Silvain Fonseca, comentou que José só fez o teste do bafômetro 1 hora após o acidente, e ainda sim estava com 1,16 mg de álcool. “ A ação do agente é impessoal, mas muitas pessoas levam para o pessoal e fazem ameaças. Nós representamos o estado. Tem que mudar esse jeitinho brasileiro de achar que se pode resolver tudo. Tem que soprar o bafômetro, tem que ser obrigatório.”

No último dia 14, o Tribunal do Júri de Brasília concedeu a liberdade provisória, por José não ter antecedentes criminais, residência e emprego fixo. Mas responderá por duplo homicídio doloso, com pena de até 60 anos de prisão por serem duas mortes. “Ás vezes, as pessoas são frutos do meio. Várias pessoas poderiam ter evitado ele de sair de casa, mas ninguém impediu. A criação, a falta de valores e limites é refletida no trânsito. O problema é de todos, não só do estado.”, diz.
Entretanto, os motoristas parecem estar mais atentos 10 meses após a lei seca. De 20 de junho de 2008, quando a lei 11.705/2008 entrou em vigor, a 20 de abril de 2009, o Detran registrou 386 acidentes fatais e 419 mortes. Ouve uma redução de 17,4%, 73 vítimas fatais a menos em relação ao mesmo período do ano passado. Fonseca que completou 22 anos de Detran, lamenta que as pessoas só aprendam pela dor, quando o acidente acontece com pessoas mais próximas. Infelizmente, depois da lei seca, a conscientização ainda é maior pela fiscalização e não pela importância da lei. “Ainda temos muito no que trabalhar. Tentar reverter ainda mais essa situação. Educar e conviver em harmonia. Moramos num país que se diz tão cristão porque matamos tanto no trânsito? Esperamos que as pessoas façam um reflexão sobre essa atitude no trânsito.”
Matéria publicada no Jornal da Comunidade do dia 2 a 8 de maio.

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