segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Diversidade nos Quadrinhos

Partindo do princípio que a mídia é um meio de comunicação de massa capaz de definir culturalmente identidades sociais, o produto comunicacional escolhido foi os quadrinhos da turma da Mônica criados por Maurício de Souza.

Segundo Louise H. Forsyth, os estudos feministas afirmam que a mídia dissemina o mito da beleza consolidado em países ocidentais e capitalistas, que a utilizam como um meio eficaz para exercer um controle sobre as mulheres, trazendo uma imagem ideal de feminilidade. Sendo assim no mito da beleza a mulher que condiz com os padrões propostos é sempre magra, jovem, branca, sexuada, nunca tem nada pra fazer e está sempre a serviço do homem. Já as representações sociais, são uma forma de conhecimento elaborada e partilhada como objeto prático e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.
Em 1959 o Brasil começava a entrar no mundo das histórias em quadrinho, com os personagens Bidu e Franjinha, criações de Maurício de Souza. Já em 1960 o artista criou o Cebolinha, três anos depois a turma começou a crescer, aparecendo o Cascão, o Horácio, o Chico Bento, o Astronauta e o fantasma Penadinho. A Mônica, o principal personagem da turma criado em 1965, uma menininha que anda de vestido vermelho e com um coelhinho de pelúcia nas mãos. Aparentemente frágil, mas quando fica irritada com Cascão ou Cebolinha, mostra que tem muita força. E uma menina que se relaciona bem com os amigos, mas com certa agressividade e pouca paciência. Nesse momento a delicadeza da mulher desaparece. O personagem, que o autor considera um dos mais importantes dentre os cem de sua galeria, leva uma vida pouco doméstica e submissa, rejeita o papel tradicional designado para as mulheres, criando sempre muita confusão com seus amigos.

As histórias em quadrinhos transmitem ideologias, reproduzidas através dos estereótipos de classe, sexo e raça. Todos os personagens da turma, não só a Mônica vive em uma sociedade onde os problemas básicos de sobrevivência foram superados. Não apresentam em nenhum momento problemas econômicos e pertencem à classe média alta, possuindo coisas necessárias para se viver bem, como casa, carro, eletrodomésticos, e boas possibilidades de consumo.
Sabemos que a reprodução do mito da fragilidade é uma característica feminina. Assim como ser carinhosa, curiosa, brincar somente de boneca, cuidar e preocupar-se com os problemas da casa, e se manter sempre magra e bonita, nunca tomando iniciativa no momento da conquista. Já a força é uma qualidade exclusivamente masculina trazendo os homens sempre como protetores das mulheres. Mônica, uma das poucas heroínas deste gênero literário, leva uma vida pouco doméstica e submissa, rejeita sempre o papel tradicional que seria designado para as mulheres. Fugindo de alguns padrões, ela é uma criança “gordinha”, porém super-ativa, que anda por lugares perigosos à noite participando de aventuras igualmente como os meninos, isso sem falar de sua extraordinária força física. Portanto, começamos as discussões se poderíamos classificar a obra como um quadrinho feminista. Apesar do personagem reproduz atitudes tidas tradicionalmente como femininas, a teoria não propõe uma troca de papéis, mas sim que as pessoas não sejam discriminadas pelo seu sexo. Assim se Maurício reproduzisse uma menina tradicional e submissa ao homem, Mônica cairia no extremo oposto e reproduzindo o papel de quem domina e oprime porque tem força física.

Nas histórias de Maurício de Souza encontramos muita diversidade. Mulheres, negros e índios participam freqüentemente como personagens secundários. Vemos que nos quadrinhos do autor as crianças podem construir conhecimentos sobre aspectos da vida social. Ao lermos, destacamos rapidamente as características mais marcantes de cada personagem. A Mônica sempre bate nos amigos, Cascão não gosta e raramente toma banho e o Cebolinha troca as letras. Apesar dos personagens terem personalidades muito simples, eles refletem a maneira como nós explicamos e prevemos o comportamento das pessoas em nosso cotidiano. Os quadrinhos são construídos com base em um senso comum, tornando-se facilmente compreensíveis para as crianças aprenderem, informalmente, sobre aspectos do mundo social.

Reproduzindo contextos e valores culturais, as histórias em quadrinhos oferecem oportunidades para as crianças conhecerem melhor o mundo social. Por ser um meio de comunicação em massa provoca um grande fascínio nas crianças. Pela razão da aparência dos personagens, do poder da Mônica, por personagens estamparem vários produtos comerciais e pelas crianças poderem entendê-las somente através da observação dos desenhos.



Referências Bibliográficas:

Mendes, M.R.S. (1990/1) El Papel Educativo de los Comics Infantiles: (Análisis de los Estereotipos Sexuales). Tese de Doutorado, Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona.

Cyrus, D. H. T. (1998) Caracterizando o Significado de Palavras Emocionais a partir das Interações Verbais entre Personagens em Histórias em Quadrinhos da Turma da Mônica. Dissertação de Mestrado, Mestrado em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará, Belém.

Forsyth, Louise H. Pela reapropiação do corpo das mulheres e das meninas, ainda sob o olhar dos outros na cultura popular das sociedades patriarcais. Tradução de Liliane Machado, revisado por Tânia Navarro Swain.

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